O "pontapé inicial" do rock no Brasil foi
Nora Ney (conhecida cantora de samba-canção) quando gravou o considerado
primeiro rock, "Rock around the Clock", de Bill Haley & His Comets
(trilha do filme Sementes da Violência), em outubro de 1955, para a versão
brasileira do filme. Em uma semana a canção já estava no topo das paradas (mas
Nora Ney nunca mais gravou nada no gênero, tirando a irônica "Cansei do
Rock", em 1961). Em dezembro, a mesma canção recebia versão em português,
"Ronda das Horas" (por Heleninha Ferreira) e outra gravada por um
acordeonista, não tão bem sucedidas quanto a "original".
|
Celly Campello |
Em 1957, foi gravado o primeiro rock original em
português, "Rock and Roll em Copacabana", escrito por Miguel Gustavo
(futuro autor de "Pra Frente Brasil") e gravada por Cauby Peixoto.
Entre 57 e 58, diversos artistas gravaram versões de músicas americanas, como
"Até Logo, Jacaré" ("See You Later, alligator"),"Meu
Fingimento" ("The Great Pretender" dos The Platters) e
"Bata Baby" (Long Tall Sally de Little Richard).2
Embora em 57 o grupo Betinho & Seu Conjunto, de
"Enrolando o Rock" tenha alcançado grande fama , os primeiros ídolos
do rock nacional foram os irmãos Tony e Celly Campelo que, em 1958, lançaram o
compacto Forgive Me/Handsome Boy, que vendeu 38 mil cópias. Tony gravaria mais
dois singles até seu álbum em 1959, e Celly estourou em 1959 com "Estúpido
Cupido" (120 mil cópias vendidas), chegando a ter boneca própria (com a
qual aparece na capa de seu LP "Celly Campello, A Bonequinha Que
Canta").
Os Campello também apresentariam Crush em Hi-Fi na
Rede Record, programa totalmente voltado para a juventude, que revelou diversas
bandas.Outros programas também surgiram para aproveitar a "febre"
como Ritmos para a Juventude (Rádio Nacional-SP) , Clube do Rock (Rádio Tupi
-RJ) e Alô Brotos! (TV Tupi). Em 1960, surgira até a Revista do Rock .
Década de 1960
O começo da década foi marcado pelo surgimento de
grupos instrumentais como The Jet Black's, The Jordans e The Clevers (futuros
Os Incríveis), e do cantor Ronnie Cord, que lançaria dois "hinos": a
versão "Biquíni de Bolinha Amarelinha" e a rebelde "Rua
Augusta".
|
Secos e Molhados |
Até que surge um capixaba que se tornaria o maior
ídolo do Rock Nacional dos anos 60 e, posteriormente, o maior nome da música
brasileira: Roberto Carlos, que emplacou dois hits em 1963: "Splish
Splash" e "Parei na Contramão". No ano seguinte, obteve mais
sucessos como "É Proibido Fumar" (mais tarde regravada pelo Skank) e
"O Calhambeque". Aproveitando o sucesso, a Rede Record lançou o
programa Jovem Guarda, apresentado por Roberto ("Rei"), seu amigo
Erasmo Carlos ("Tremendão") e Wanderléa ("Ternurinha"). Só
nas primeiras semanas, atingira 90% da audiência.
|
Os mutantes |
Seguindo o sucesso das Jovem Guarda, surgem entre
outros, Renato e seus Blue Caps, Golden Boys, Jerry Adriani, Eduardo Araújo e
Ronnie Von, que tinham seu som inspirado nos Beatles (o gênero apelidado
"iê-iê-iê") e no rock primitivo. A Jovem Guarda também levou a todo
tipo de produto e filmes como Roberto Carlos em Ritmo de Adventura (seguindo a
trilha de A Hard Day's Night e Help! dos Beatles).
Apesar disso, os artistas da MPB "declararam
guerra" ao iê-iê-iê da Jovem Guarda, chegando a um protesto de Elis
Regina, Jair Rodrigues, entre outros, conhecido "Passeata contra as
guitarras elétricas". O programa terminaria em 1968, com a saída de
Roberto Carlos.
|
Ney Matogrossso |
Então, surgiria a Tropicália. Em 1966, surgiram Os
Mutantes: Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, com seu deboche e som
inovador. Em 1967, a dupla Caetano Veloso e Gilberto Gil faria as canções
"Alegria, Alegria" e "Domingo no Parque", apresentadas no
III Festival da Rede Record. No ano seguinte, o álbum Sgt. Pepper's Lonely
Hearts Club Band fascinou a dupla, levando a apresentações vaiadas em festivais
de Record e Excelsior, e ao álbum coletivo Tropicália ou Panis et Circensis,
com Mutantes, Gal Costa, Tom Zé, Torquato Neto, Capinan, Rogério Duprat e Nara
Leão, considerado um dos melhores álbuns brasileiros da história.
Os Mutantes também criariam carreira grandiosa, com
álbuns elogiados a partir de 1968 e chegando a influenciar até Kurt Cobain, do
Nirvana. O grupo começaria a se desmanchar com a saída de Rita Lee, em 1973.
Em 1973, surgiram Secos & Molhados, liderados
por João Ricardo, com Ney Matogrosso como vocalista, que faziam a chamada
"poesia musicada", com canções muito bem elaboradas como "Rosa
de Hiroshima" ou "Prece Cósmica", apesar de alguns flertes menos
poéticos e mais divertidos como "O Vira". Dois álbuns e um ano
depois, em 1974, o grupo com sua formação clássica (João, Ney e Gerson Conrad)
se desfez.
|
Raul Seixas |
Em 1973 surgiu outro ícone: Raul Seixas, que
vendera 600.000 compactos de "Ouro de Tolo" em poucos dias e se
tornaria "bardo dos hippies" com músicas debochadas como "Mosca
na Sopa" e "Maluco Beleza", esotéricas como "Eu Nasci Há
Dez Mil Anos Atrás" e "Gita", e as motivacionais
"Metamorfose Ambulante" ( que compunha aos 14 anos) e "Tente
Outra Vez".
Movimentos surgiram em outros locais do Brasil: em
Minas Gerais, o "Beatlesco" Clube da Esquina, liderado por Milton
Nascimento e Lô Borges; e no Nordeste, a "nova onda" dos Novos
Baianos, além da chamada "Invasão Nordestina": artistas que
misturaram o sertanejo ao rock, como Fagner, Zé Ramalho e Belchior.
|
Rita Lee ao centro na época dos Mutantes |
Mesmo com o pouco espaço na mídia, várias bandas e
estilos se destacavam no circuito underground da época, como o progressivo
regional de O Terço (que chegou a gravar um álbum em inglês voltado para o
mercado italiano), o hard rock do Made in Brazil, o rock rural de Sá, Rodrix e
Guarabyra e o hard progressivo do Casa das Máquinas.
No verão de 1975 foi organizado o pioneiro festival
de rock no Brasil, o "Hollywood Rock", patrocinado pela companhia
Souza Cruz, no Rio de Janeiro.Participaram os grupos Vimana, O Peso, Rita Lee
& Tutti Frutti, além dos cantores Erasmo Carlos, Celly e Tony Campelo e
Raul Seixas. As apresentações foram registradas no documentário Ritmo
Alucinante, lançado no mesmo ano.