Enquanto que até o início do século XVIII a maior
parte da música erudita era praticada na Bahia e Pernambuco, música da qual
nada se conhece senão relatos literários e iconografia, já que todas as
partituras foram perdidas,5 em seguida já vemos uma atividade musical se
disseminar em todas as partes do país dotadas de alguma estrutura mais ou menos
estabilizada, formando-se um público apreciador em todas as classes sociais,
com novos centros no Rio de Janeiro, São Paulo, Pará e Maranhão. As pequenas
orquestras privadas se multiplicam, as irmandades atuam intensamente, as
igrejas apresentam rica variedade de música, as corporações militares possuem
suas bandas estáveis e a ópera de matriz napolitana torna-se verdadeira mania.
As salas de concerto e teatros aparecem em diversas cidades, especialmente em
Salvador, São Paulo, Recife e no Rio de Janeiro - algumas bastante luxuosas.
São de lembrar, na primeira metade do século, os nomes de Luís Álvares Pinto,
mestre de capela da Igreja de São Pedro dos Clérigos em Recife, do padre
Caetano de Mello de Jesus, compositor e insigne teórico na Bahia, e Antônio
José da Silva, o Judeu, que fez sucesso em Lisboa como autor de libretos
mordazes, escritos para comédias de costumes que seriam muito encenadas também
no Brasil até o Império, e cuja parte musical era do compositor Antônio
Teixeira.
Na segunda metade do século XVIII um grande
florescimento musical aconteceu na Capitania das Minas Gerais, especialmente na
região de Ouro Preto, Mariana e Diamantina, onde a extração de grandes
quantidades de ouro e diamantes destinados à metrópole portuguesa atraiu uma
população considerável que deu origem a uma próspera urbanização. Ali a vida
musical, tanto pública como privada, religiosa ou secular, foi muito
privilegiada, registrando-se a importação de grandes órgãos para as igrejas e
de partituras europeias pouco tempo após sua publicação em seus países
originais. Neste período surgiram os primeiros compositores importantes
naturais da terra, muitos deles mulatos. Dignos de nota foram José Joaquim
Emerico Lobo de Mesquita, talvez o mais importante deste grupo, Manoel Dias de
Oliveira, Francisco Gomes da Rocha, Marcos Coelho Neto (pai) e Marcos Coelho
Neto (filho), todos muito ativos. Trazem obras suas algumas das mais antigas
partituras escritas no Brasil a chegarem até os nossos dias, ainda que a maior
parte de sua produção também tenha se perdido. Mas dentre o que restou são
exemplos notáveis um Magnificat de Manuel Dias de Oliveira e a célebre Antífona
de Nossa Senhora, de Lobo de Mesquita. Impressionam as estatísticas da época do
apogeu mineiro: em Diamantina existiriam dez regentes em atividade, o que
implicaria um corpo de músicos profissionais de pelo menos 120 pessoas; em Ouro
Preto teriam atuado cerca de 250 músicos, e mais de mil em toda a Capitania,
sem contar os diletantes, que deveriam compor uma legião adicional, uma
quantidade maior do que a que existia na metrópole portuguesa na mesma época,
como informou Vasco Mariz.
Detalhe de pintura de Mestre Ataíde mostrando anjos
músicos, iconografia pode fornecer pistas sobre o instrumental utilizado na
época
Graças a esta opulência, e à sua consistência e
uniformidade estética, justifica-se a denominação do grupo de compositores
ativos na região como a "Escola Mineira". Muito já foi publicado
sobre ela descrevendo-a como uma escola barroca, já que comparativamente o
estilo Barroco ainda sobrevivia forte nas artes visuais brasileiras, mas
atualmente se considera a Escola como fruto da rápida penetração da influência
neoclássica, derivada especialmente de Haydn, Mozart, Pleyel, Boccherini e
outros, cujas obras circulavam impressas e eram avidamente procuradas e
copiadas, e só raramente se percebem ecos da estética que antes prevalecera.
Até há pouco tempo em grande parte desconhecido, este acervo de música
colonial, quase em totalidade no gênero sacro, vêm recebendo mais atenção no
Brasil e também no exterior, especialmente após as pesquisas realizadas por Francisco
Curt Lange nos anos 40, e hoje está sendo mais amplamente estudado e divulgado.
Com o esgotamento das minas no fim do século o foco
da atividade musical se deslocaria para outros pontos, especialmente o Rio de
Janeiro e São Paulo. Nesta, merece menção André da Silva Gomes, de origem
portuguesa, Mestre de Capela da Catedral, deixando bom número de obras e
dinamizando a vida musical da cidade.
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