O que se conhece dos primeiros tempos da música
erudita no Brasil é muito pouco. Não se pode pintar um panorama da música
nacional durante os dois primeiros séculos de colonização sem sermos obrigados
a deixar amplos espaços em branco. Os primeiros registros de atividade musical
consistente provêm da atividade dos padres jesuítas, estabelecidos aqui desde 1549.
Dez anos depois já haviam fundado aldeamentos para os índios (as chamadas
reduções) com alguma uma estrutura educativa musical. Neste início, ainda com
escasso número de cidades, mesmo as mais importantes não passando de pequenos
povoados, também é lembrada a atividade de Francisco de Vaccas como
mestre-de-capela e Pedro da Fonseca como organista, ambos ativos na Sé de
Salvador.
Ruínas de São Miguel das Missões, no Rio Grande do
Sul, um dos aldeamentos Jesuítas onde se praticava música com alto grau de
complexidade e refinamento.
Um século mais tarde as reduções do sul do Brasil,
fundadas por jesuítas espanhóis, conheceriam um florescimento cultural vigoroso
e exuberante, onde funcionaram verdadeiros conservatórios musicais, e relatos
de época atestam a fascinação do índio pela música da Europa e sua competente
participação tanto na construção de instrumentos como na prática instrumental e
vocal.2 Os padrões de estilo e interpretação eram naturalmente todos da cultura
da Europa, e o objetivo desta musicalização do gentio era acima de tudo
catequético, com escassa ou nula contribuição criativa original de sua parte.
Com o passar dos anos os índios remanescentes dos massacres e epidemias foram
se retirando para regiões mais remotas do Brasil, fugindo do contato com o
branco, e sua participação na vida musical nacional foi decrescendo até quase
desaparecer por completo.
O mesmo caso de dominação cultural ocorreu no caso
do negro, cuja cultura foi tão decisiva para a formação da música brasileira
atual, especialmente a popular. Mesmo com a vinda de maciços contingentes de
escravos da África a partir do século XVI, sua raça era considerada inferior e
desprezível demais para ser levada a sério pela cultura oficial. Mas seu
destino seria diferente do índio. Logo sua musicalidade foi notada pelo
colonizador, e sendo uma etnia mais prontamente integrável à cultura dominante
do que os arredios índios, grande número de negros e mulatos passaram a ser
educados musicalmente - dentro dos padrões portugueses, naturalmente - formando
orquestras e bandas que eram muito louvadas pela qualidade de seu desempenho.
Mas a contribuição autenticamente negra à música erudita brasileira teria de
esperar até o século XX para poder se manifestar em toda sua riqueza. É
importante assinalar ainda a formação de irmandades de músicos a partir do
século XVII, algumas integradas somente por negros e mulatos, irmandades estas
que passariam a monopolizar a escrita e execução de música em boa parte do
Brasil.
O século XVIII e a Escola Mineira
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